Na quinta-feira (12), as ações da Americanas despencaram quase 80% na bolsa de valores, depois que a empresa publicou um comunicado informando que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, no valor de R$ 20 bilhões.
Isso significa que a Americanas percebeu que esse valor bilionário, referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores, não havia sido registrado corretamente nos balanços da empresa.
Como resultado, as negociações foram interrompidas para a divulgação de um novo comunicado oficial da companhia. No final do pregão, a queda foi de 77,33%, a maior queda diária de uma empresa de capital aberto na bolsa brasileira desde 2008.
O comunicado da Americanas sobre o problema no balanço não fornece muitos detalhes específicos sobre o que foi descoberto nas contas da empresa, mas informa que a área contábil identificou “operações de financiamento de compras no valor de R$ 20 bilhões, nas quais a empresa é devedora para instituições financeiras e que não estão refletidas adequadamente na conta de fornecedores nas demonstrações financeiras.
Para se ter uma noção do impacto financeiro, de acordo com dados de Einar Rivero, da TradeMap, o montante do prejuízo de R$ 20 bilhões é equivalente ao valor de mercado de duas outras empresas de varejo, Magazine Luiza e Lojas Renner, que no fechamento do pregão de quarta-feira valiam R$ 20,20 bilhões e R$ 20,22 bilhões, respectivamente.
A queda de valor de mercado da Americanas foi significativa, perdendo R$ 8,37 bilhões só nesta quinta-feira. Antes do anúncio, a empresa valia R$ 10,8 bilhões, mas agora seu valor caiu para R$ 2,4 bilhões.
A Crise no Varejo Brasileiro
A crise no varejo está relacionada a uma série de fatores, incluindo a inflação elevada e acima da meta estabelecida pelo Banco Central (BC). Quando os preços dos bens e serviços aumentam, o poder de compra da população é comprometido, o que pode afetar as vendas das empresas varejistas.
Além disso, para controlar a inflação, o BC tem aumentado a taxa básica de juros (Selic), que atualmente está em 13,75% ao ano. Juros mais altos encarecem os processos de tomada de crédito e financiamento, impactando a força do consumo doméstico. Como as varejistas dependem principalmente do consumo doméstico, elas enfrentam dificuldades em momentos de situação macroeconômica desfavorável.
Assim como outras empresas do setor, a Americanas também enfrentava dificuldades econômicas. A chegada de Sergio Rial, presidente da empresa, era vista como uma oportunidade para colocar a empresa de volta em uma trajetória mais lucrativa, mas sua saída preocupa os acionistas.
A preocupação é se essas inconsistências na Americanas vão afetar todo o setor de varejo. De curto prazo, parece que sim, outras importantes varejistas como Magazine Luiza e Via também tiveram uma forte queda de valor de suas ações, caindo cerca de 10%.